sábado

Clareira de sol

Mas agora não foi o inimigo que espreita montado em sua vassoura amarela,
coberto como um porco espinho com as puas do ódio;
agora entre irmãos nasceram racimos tortuosos
e desenvolveram os vinhos amargos, misturando mentira e vileza,
até preparar a suspeita, a dúvida, as acusações:
uma gelatina asfixiante de transpiração literária.

Não posso voltar a cabeça e olhar a manada perdida.

Passei entre os vivos fazendo meu ofício, e regresso à chuva
com alguns cravos e o pão que elaboram minhas mãos.


Eu busquei a bondade no bom e no mal busquei a bondade
e busquei a bondade na pedra que leva ao suplício
e encontrei a bondade na cova em que vive o falcão
e busquei a bondade na lua coberta de farinha campestre
e encontrei a bondade onde estive: esse foi meu dever na terra.

Pablo Neruda

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse "agora entre irmãos nasceram racimos tortuosos
e desenvolveram os vinhos amargos" virou uma condição em minha vida, penso que irreversível. O esforço mútuo é preciso, pessoal e intransferível, mas difícil. Reforce sempre que possível...Se é que a compreensão disso é biográfica e, se compreendo me faço próxima e mato de leve a saudade de 'tua sábia ausência'.
Uma bondade de lua pra você e até mais ver.(rimou..rs)