terça-feira



vagabundo incorrigível, o jabuti sonhava
encostado em uma árvore multifrutífera.

Nas suas reflexões oníricas,
era capaz de escalar-lhe até o topo, preenchendo sua sacola com uma de cada cor:
jenipapo, tangerina, maçã, jamelão...

Feito isso, abriu uma portinha no céu,
cortando-lhe o azul aguado por uma fresta inescrutável
escapou num pulo
à anti-terra, escurecida e fria, do outro lado.

Cheguei a gritar seu nome,
mas a portinha já havia desaparecido atrás dele.
Foi só depois de alguns minutos
que ele pôde acender uma vela
fazendo brilhar no horizonte um teatro de sombras.

Mas de algum modo a incandescência se espalhou
e foi como se tudo explodisse
para cair na escuridão de novo.