segunda-feira











vou te confundir completamente,
despropósito, sopro subliminar,
vou te confundir completamente,
agora e sempre.

sei que meu olhar te desespera às profundidades,
e todos os mistérios do mundo são meus comparsas.

estive destinado ao árido,
todos esses anos,
estive contrapartido às vésperas,
ao ocaso do entorpecimento mais sublime.
subi às esquinas, desdobrando
os olhares e suas entrelinhas;
carrapato no amargo, no azedo,
estive destinado às transitoriedades brilhantes,
amaciado, mas nem tanto,
ao olhar invejoso e ciumento,
sobrevoando translúcido à tarde.
quando cheguei,
que espécie de bosque havia florescido
nas paredes das minhas gargantas,
desfazedor de substâncias?
a tudo que se desfaça, violento,
repentino, me inclinei
desde sempre, esses anos todos,
estive destinado ao árido.

sábado


ouço o silêncio barulhento de minhas próprias escolhas,
em vozes de súbito organismos, por outra senda
que caminho igualmente distraído.

devagüado por horas,
sou a colcha de retalho de suas palavras,
fui a força do invisível,
mas onde busco
encontro a …

os voos do trompete, as flores do mal,
as veredas:
minha quebrada.


terça-feira



vagabundo incorrigível, o jabuti sonhava
encostado em uma árvore multifrutífera.

Nas suas reflexões oníricas,
era capaz de escalar-lhe até o topo, preenchendo sua sacola com uma de cada cor:
jenipapo, tangerina, maçã, jamelão...

Feito isso, abriu uma portinha no céu,
cortando-lhe o azul aguado por uma fresta inescrutável
escapou num pulo
à anti-terra, escurecida e fria, do outro lado.

Cheguei a gritar seu nome,
mas a portinha já havia desaparecido atrás dele.
Foi só depois de alguns minutos
que ele pôde acender uma vela
fazendo brilhar no horizonte um teatro de sombras.

Mas de algum modo a incandescência se espalhou
e foi como se tudo explodisse
para cair na escuridão de novo.